terça-feira, 23 de setembro de 2008

Carta de intenções.

Faz já um bocado que lá fora, após a passagem duns vultos brancos, as luzes se apagaram e é à luz de um coto de vela que secretamente escrevo estas linhas.
Levantei-me esta manhã com a certeza de ter nas mãos
o passo seguinte, o mais importante talvez, da Humanidade.
Durante anos li, estudei, comparei as evoluções das Sociedades e as suas degenerações.
Interiorizei como tantas vidas, em vez de cumprirem o destino elevado da sua condição humana, se perderam inutilmente em miséria e sofrimento.
Em vez de amor, poesia e uma existência dirigida ao crescimento interior, apenas o seu contrário: a perpetuação da escravidão, corrupção e prepotência, ódios e guerras derivadas dos interesses quase sempre de minorias de que resultou o Homem espartilhado, limitado, prisioneiro entre fronteiras.
As fronteiras... Essas fontes desnecessárias de permanente tensão, quando afinal somos todos homens e mulheres do Mundo que apenas desejam ser felizes e cuja única fronteira natural é o limite da vida em felicidade sempre pronta a ser expandida mais além.
Por isso, relectindo esta ânsia da Humanidade que tem sido mantida quase subliminar, e bem ponderadas as acções a empreender, tomei a firme decisão de dar este passo.
Sei que durante os primeiros tempos terei de usar a força para impôr tão elevados princípios, e quiçá fazer uso disto que mais detesto: a Guerra! Mas não vejo outro meio de, no espaço curto de uma vida, produzir um resultado tão importante e pelo qual toda a Humanidade aspira desde os seus primórdios.
O fim justifica amplamente os meios!
Arrancarei ainda este ano com as minhas Forças, destruindo fronteiras, derrotando exércitos, e num arraso desta podre Ordem antes instituída, levarei por todo o lado os grandes e generosos ideais que farão o Homem finalmente cumprir o seu destino.
Quando todo o Mundo estiver conquistado, por cima dos maiores monumentos olharei o Sol de frente e sob a minha coroa de Imperador abrirei as mãos num gesto generoso de abnegação do poder e em completa dádiva. Finalmente um coro de milhões de seres, numa fraternidade humana ciente da sua igualdade, elevar-se-á aos céus em hino de alegria e liberdade.
A Humanidade entrará numa nova etapa, as artes florescerão, os amantes serão os novos Senhores da Terra e o sorriso será o rosto de cada ser humano. Finalmente começará a ser escrita a nova e eterna página gloriosa da sua História colectiva.
É esta a minha missão. A missão da minha vida.
Agora vou pousar a caneta, apagar a vela e as sombras dançantes que projecta no corredor e deitar-me, pois amanhã cedo encetarei todo o processo que levará a Felicidade à conquista do Mundo.
Esperem por mim, pois em breve estarei ao vosso lado.
Ah...quase que me esquecia de apresentar-me.
Vosso servidor, sou
de meu nome abaixo assinado:

Napoleão Bonaparte, o Corso...

Charlie